Dados do Boletim Epidemiológico 2025, divulgados pela Sociedade Brasileira de Salvamento Aquático (Sobrasa), mostram que afogamento é a segunda causa de morte de crianças com idades entre 1 e 4 anos no país.
De acordo com estimativas da Organização Mundial da Saúde (OMS), ocorreram 300 mil mortes no mundo por afogamento em 2021, das quais 24% foram de crianças menores de 5 anos de idade e 19% entre crianças de 5 a 14 anos.
Para saber mais mais sobre segurança na água, a CNN conversou com a a especialista em bem-estar, Leana Wen, médica emergencista e professora associada adjunta da Universidade George Washington, tendo anteriormente atuado como comissária de saúde de Baltimore.
Ela também é mãe de duas crianças pequenas e, como alguém que aprendeu a nadar já adulta, é uma defensora apaixonada do aprendizado da natação para crianças e adultos.
CNN: Quem corre mais risco de se afogar e em que circunstâncias?
Dra. Leana Wen: O CDC emitiu um importante relatório em 2024 sobre mortes por afogamento não intencional nos Estados Unidos. As taxas de mortalidade foram significativamente mais altas em 2020, 2021 e 2022 do que em 2019, segundo a agência. Além disso, as maiores taxas foram observadas em crianças pequenas de 1 a 4 anos. Entre as crianças nessa faixa etária, 461 morreram por afogamento em 2022, um aumento de 28% em relação a 2019.
O relatório também destacou disparidades raciais, com taxas mais altas de mortes por afogamento entre indivíduos identificados como indígenas americanos ou nativos do Alasca não hispânicos e negros ou afro-americanos não hispânicos. Apenas 45% de todos os adultos relataram ter tido aulas de natação, e esses números foram maiores entre americanos brancos (52%) do que entre negros (37%) e hispânicos (28%).
Disparidades raciais também foram relatadas em uma análise de 2023 da Comissão de Segurança de Produtos ao Consumidor, que descobriu que crianças afro-americanas representavam 21% de todos os afogamentos de crianças menores de 15 anos nos quais raça e etnia são conhecidas. Entre crianças de 5 a 14 anos, 45% das mortes por afogamento ocorreram entre afro-americanos.
A análise da SC também continha outro dado importante: a grande maioria (80%) dos afogamentos pediátricos em que o local é conhecido ocorreu em residências. Isso significa que 4 em cada 5 crianças que se afogaram morreram em sua própria piscina ou na de um amigo, vizinho ou familiar. Desses afogamentos residenciais, 91% ocorreram entre crianças menores de 7 anos.
CNN: Por que tantos afogamentos acontecem em ambientes residenciais?
Wen: Uma das principais razões é a diferença na supervisão. Muitas praias públicas e piscinas comunitárias contratam salva-vidas cuja função é zelar pela segurança de todos que estão dentro ou perto da água. Piscinas privadas em quintais de residências frequentemente não têm alguém designado para esse propósito. Às vezes, crianças mais velhas supervisionam crianças mais novas, mas nem sempre estão atentas. Ou adultos podem estar supervisionando, mas também estão ocupados com outras tarefas. Além disso, alguns dos que observam outros podem não saber nadar.
Pode haver também uma falsa sensação de segurança em ambientes residenciais. As pessoas podem pensar que a piscina é pequena ou não muito funda, ou que há muitas pessoas por perto, então o que poderia acontecer? Tenha em mente, no entanto, que crianças pequenas podem se afogar em apenas alguns centímetros de água. Lesões graves ou morte podem acontecer em 30 segundos. Os afogamentos são frequentemente silenciosos porque a vítima não consegue pedir ajuda.
CNN: Como pais e responsáveis podem prevenir afogamentos em ambientes residenciais?
Wen: A prática mais importante é nunca deixar crianças sem supervisão perto de qualquer corpo d'água. Mesmo que elas já saibam nadar, mesmo que estejam usando dispositivo de flutuação, mesmo que a piscina seja rasa ou pequena, um acidente pode ocorrer — e você ou outro adulto responsável deve sempre ser capaz de ver sua criança. O adulto supervisor deve estar ativamente observando a criança e não distraído com tarefas domésticas ou com seu smartphone. A pessoa responsável não deve estar sob influência de álcool ou drogas.
O adulto supervisor também deve saber nadar bem o suficiente para pular na piscina e salvar a criança, se necessário. Uma precaução adicional de segurança é aprender ressuscitação cardiopulmonar (R) e primeiros socorros para bebês, crianças e adultos.
Se você tem uma piscina, seja muito cuidadoso antes de permitir que outros a utilizem. Se os filhos dos vizinhos quiserem nadar em sua piscina, um adulto responsável deve acompanhá-los. Piscinas particulares devem ter cercas à prova de crianças ao seu redor. O cercamento deve envolver a piscina, ter uma trava de fechamento automático fora do alcance das crianças e ter pelo menos 1,2 metro de altura. Isso é exigido por lei na maioria dos estados.
CNN: Que precauções de segurança as pessoas devem tomar perto de corpos d'água naturais?
Wen: Use sempre um colete salva-vidas adequado e aprovado ao andar de barco. Para maior segurança, nade em áreas onde há um salva-vidas de plantão. Sempre siga as orientações do salva-vidas sobre as condições de segurança e permaneça na área designada para natação.
Em caso de acidentes chame um serviço de emergência como SAMU (192), ou Corpo de Bombeiros (193).
CNN: E quanto a ensinar as crianças a nadar? Isso pode ajudar na segurança aquática?
Wen: Sim. Crianças de 1 a 4 anos que participaram de aulas formais de natação tiveram um risco 88% menor de afogamento, de acordo com um estudo publicado no JAMA Pediatrics. O objetivo aqui não é necessariamente ensinar às crianças todos os diferentes estilos de natação e fazê-las participar de uma equipe de natação; é transmitir habilidades básicas de salvamento, como flutuar e boiar de costas.
Quando você estiver na água com seus filhos, aproveite todas as oportunidades para lembrá-los sobre segurança na água. Outras dicas incluem nunca nadar sozinho, sempre pedir permissão antes de entrar na água e nunca mergulhar de cabeça em águas desconhecidas. As crianças pequenas também devem ser lembradas de não tentar alcançar objetos na piscina, pois correm o risco de cair; elas devem sempre pedir ajuda.
CNN: E quanto aos pais ou responsáveis que não sabem nadar? Você recomenda que eles também façam aulas de natação?
Wen: Sim. Primeiro, adultos que não sabem nadar têm mais probabilidade de ter filhos que não sabem nadar. Este foi o meu caso. Meus pais não nadavam, e eu também nunca aprendi a nadar durante meu crescimento.
Segundo, é difícil para os adultos supervisionarem adequadamente as crianças nadando se eles próprios não sabem nadar. Foi uma experiência realmente assustadora com meus próprios filhos que me levou a aprender a nadar. Meus filhos tinham apenas 1 e 3 anos em um verão quando meu filho mais velho empurrou o mais novo para a piscina.
Estávamos na piscina comunitária local, e havia um salva-vidas que agiu imediatamente. Mas lembro como me senti aterrorizada — e impotente. Matriculei meus filhos em aulas de natação imediatamente. Também encontrei um instrutor para me ensinar, porque percebi que precisava superar meu próprio medo da água e aprender habilidades básicas de segurança aquática para proteger meus filhos.
Aprender a nadar como adulto é uma experiência que nos torna humildes, especialmente para pessoas como eu que tiveram que começar superando o medo. Comecei literalmente do zero. Durante semanas, trabalhei apenas para me sentir confortável submergindo minha cabeça na água.
Eventualmente, aprendi a nadar e agora realmente gosto de estar na água. E me sinto muito mais confortável supervisionando meus filhos quando estamos em espaços de natação privados ou comunitários. Estou ansiosa pela abertura de nossa piscina local para o verão e por ar tempo com meus filhos tendo momentos divertidos — e seguros — na água.
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