PGR pede inquérito contra Gilson Machado por obstrução à ação do golpe
Ex-ministro do Turismo teria atuado para tirar Cid do país e arrecadar valores para Bolsonaro

O procurador-geral da República, Paulo Gonet, pediu nesta segunda-feira ao Supremo Tribunal Federal (STF) a abertura de inquérito contra o ex-ministro Gilson Machado, do governo de Jair Bolsonaro (PL), por obstrução de investigação de organização criminosa e favorecimento pessoal.
O requerimento tem como base informações da Polícia Federal (PF) de que Machado teria atuado, no dia 12 de maio, para obter a expedição de um aporte português - junto ao consulado de Portugal no Recife (PE) - em favor do tenente-coronel Mauro Cid, ex-ajudante de ordens de Bolsonaro, "para viabilizar sua saída do território nacional".
Além disso, Machado teria promovido, por meio de seu perfil no Instagram, uma campanha de arrecadação de doações em dinheiro que seriam destinadas a Bolsonaro, o que também chamou a atenção dos investigadores.
Cid e Bolsonaro são réus da ação penal sobre a tentativa de golpe de Estado. O tenente-coronel fechou acordo de delação premiada e foi interrogado ontem pelo STF. Bolsonaro será interrogado ainda nesta terça.
No pedido da PGR ao Supremo, Gonet diz que Machado não obteve êxito na emissão do documento para Cid, mas que a PF ainda considera possível que ele "busque alternativas junto a outras embaixadas e consulados" para essa finalidade.
Para Gonet, essas informações levantam suspeita de que Machado esteja atuando para obstruir a ação penal sobre a tentativa de golpe. A PGR pediu que o ministro Alexandre de Moraes autorize não só abra o inquérito, mas autorize medidas de busca e apreensão.
As buscas seriam "em prol do avanço das investigações, que podem se beneficiar do achado de documentos, anotações, registros, mídias, aparelhos eletrônicos e demais dispositivos de armazenamento de dados reveladores de circunstâncias delituosas".
Além disso, poderiam indicar a participação de outros agentes. Outras medidas requeridas dizem respeito ao levantamento de sigilo de dados bancários, fiscais, telefônicos e telemáticos de Machado. Moraes, entretanto, ainda não despachou no processo.
A quebra do sigilo seria necessária para "reunir informações relevantes, tais como ligações feitas ou recebidas, localização geográfica e trocas de mensagens sobre a logística empreendida para favorecer réus" da ação penal sobre o golpe. A medida abarcaria o período entre 1º de janeiro e 5 de junho de 2025.
À CNN, a defesa Cid disse que o ex-ajudante de ordens nunca pediu aporte português nem deu autorização para que outra pessoa o fizesse.
Cid chegou a ser intimado para prestar esclarecimentos sobre um aporte, mas os advogados disseram à CNN que ele nunca requereu aporte português, e que ele tem cidadania portuguesa. Ao militar, foi emitida uma carteira de identidade de Portugal, colocada à disposição do ministro Alexandre de Moraes, relator do caso.
Leia a nota que o ex-ministro do Turismo Gilson Machado enviou à CNN
Eu, GILSON MACHADO GUIMARÃES NETO tomando conhecimento das publicações desta tarde, nego veementemente ter ido a qualquer consulado inclusive o Português no Recife-PE.
Assim que soube das matérias publicadas envolvendo meu nome, reitero nessa oportunidade, que apenas mantive contato telefônico em Maio último, com Consulado Português, tão somente solicitando uma agenda para meu pai CARLOS EDUARDO MACHADO GUIMARÃES renovar o aporte, o qual foi feito após dita solicitação.
Recife, 10 de junho de 2025.
GILSON MACHADO GUIMARÃRES NETO.